Noopolítica

A mente e o corpo como territorialidades estratégicas

Noopolítica aborda concepções e posturas que territorializam a mente e o corpo em domínio estratégico de mudanças civilizatórias, interconectando dimensões individuais, locais, nacionais, globais, planetárias e cósmicas.

Seja em situações de convivência ou de conflito nas relações humanas, vislumbra-se um mosaico de abordagens ancoradas em lógicas de poder, segurança nacional e internacional, política, espiritualidade, em diálogo com o campo científico, demandando abertura para perspectivas holísticas de compreensão e interlocução.

A base estrutural de referência é o processo recente de aceleração globalista, agente catalizador de transformações tecnológicas, cognitivas e socioeconômicas que alavancam um crescente protagonismo das redes comunicacionais da era digital. Como parte dessa dinâmica, adquire centralidade analítica o significado e o alcance da imaterialidade como esfera da política.

Áreas Temáticas

• Culturalismo e mentalização estratégica. Racionalidades meios-fins e Cisne Negro na formação de agentes políticos, corporativos, sociais, religiosos, de segurança e inteligência.

• Noosfera. (In) conscientes coletivos sob o prisma do poder, da segurança e da espiritualidade.

• O cérebro como campo de batalha. Guerras cognitivas.

• Estrutura e conjuntura.

• Transhumanismo. A mente e o corpo como territórios sem fronteiras.

• Dimensões/Metaverso. Trascendendo o mundo material?

o espelho de um momento

O que foi compreendido já não existe.

A ave confundiu-se com o vento,

O céu com a sua verdade,

O homem com a sua realidade.

Paul Éluard

Relances

A  progressão da multipolaridade na distribuição do poder mundial, em que proliferam atores com diversidade de sistemas políticos, aliada à paulatina retirada internacional dos Estados Unidos, a ser acentuada caso Donald Trump retorne à presidência, favorece o sentimento de impunidade por parte de Estados no uso da força armada.

É o caso dos governos da Rússia, Israel, Nicarágua e Venezuela, que assumem um cálculo de custo-benefício favorável em ações internas e externas que visam neutralizar e/ou eliminar alvos situados em campo inimigo, com alto custo para as populações civis.

Assim como o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, conta com a autocontenção dos Estados Unidos e da União Europeia para transitar da crítica verbal à adoção de medidas punitivas pelo massacre de civis na ofensiva em Gaza; o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, contabiliza no fechamento politico buscando perpetuar-se no poder, a inibição do governo do Brasil para emitir condenações públicas e a rejeição dos governos da China e da Rússia a qualquer tipo de sanção.

Porém, diferentemente da Rússia, Israel e Nicarágua, a República Bolivariana da Venezuela sofre uma crise estrutural do seu sistema econômico, situação que mantem em ebulição a insatisfação interna, delimitando o alcance da impunidade frente à capacidade condicionante de pressões externas. Não há “Plano Marshall” disponível para erguer a economia venezuelana.

 

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Na Argentina, vive-se a implementação de um ajuste econômico com efeitos sociais catastróficos, cuja brutalidade, paradoxalmente, foi bandeira de campanha do presidente eleito Javier Milei. Na hora de emprestar o sufrágio, o sacrifício assumido como mal necessário poderia apresentar-se para muitos como uma hipótese cuja comprovação se situava em cenário aberto de probabilidades, o problema é que o custo real é contundente e nada probabilístico para quem o sofre, o que inclui seus votantes do campo popular e classe média, além de setores empresariais mais dependentes do mercado interno.

Em termos de condução econômica, os resultados vão ao encontro do previsto pelo governo, independentemente dos problemas na aprovação de leis junto ao Congresso.

No cenário de polarização política efetiva, se esboça um tênue compasso de espera. Como se a oposição e o governo buscassem ganhar tempo. No campo opositor mais crítico, o credito do ajuste deve circunscrever-se a Milei e seus aliados,  numa aposta de alguns meses para que a governabilidade se torne insustentável, antecipando o fim do mandato, chamado a eleições, e um novo governo começando com a inflação reduzida, as contas públicas equilibradas, e a responsabilidade  do colapso social nas costas do antecessor. No governo, é essencial ganhar tempo para concluir a fase de estabilização, conseguindo mostrar uma mínima tendência de melhora e proceder à dolarização, que após implementada, é uma camisa de força difícil de reverter. Paralelamente à ampliação da base de sustentação parlamentar, o presidente investe num malabarismo midiático pleno de emoções, inflamando polarizações com políticos e artistas críticos, abraços efusivos ao Papa, choro aos prantos no Muro das Lamentações, guerra aos moinhos de vento do “Marxismo Cultural”.

Enquanto isso,  na realidade de quem sofre o ajuste, o tempo não para.